Segundo o professor William Gomes, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esta situação ilustra bem como a percepção do tempo pode variar de pessoa para pessoa e de acordo com a situação.
Ele explica que, para a psicologia, o tempo “é a medida dos nossos julgamentos. O seu tempo psicológico não corresponde ao cronológico. Ele corresponde ao estado momentâneo de sua consciência”, completa. Então sim, é totalmente possível que o tempo voe ou se arraste em alguns momentos. Mas por que?
Nosso tempo vai depender de como estamos nos sentindo, bem como da nossa atitude em relação ao passado e ao futuro. Por exemplo: quando está em jogo alguma coisa que te desafie e direciona sua atenção para o futuro, as horas podem passar voando. Tipo uma entrevista de emprego ou uma prova importante como o vestibular. Tudo por causa da ansiedade. Quanto mais uma coisa te incomoda, mais o tempo tende a se arrastar. O professor William explica que um momento em que a pessoa precise lidar com algo que a tenha perturbado gravemente no passado provavelmente será mais longo, porque fará com que ela fique remoendo lembranças dolorosas e reavaliando suas atitudes.
Excitação e perigo também podem fazer com que o tempo pareça passar mais devagar.
Tempo também tem a ver com emoção. Em um estudo do professor José Lino, voluntários ouviram trechos da obra musical “Quadros de uma Exposição”, de Modest Mussorgsky, mas apenas metades deles receberam informações de alto teor emocional sobre a composição dessa obra (ela foi feita homenagem a um grande amigo de Mussorgsky que havia falecido). Quem sabia sobre o drama sentiu o tempo passar mais devagar.
Dá para controlar a forma como sentimos o tempo passar?
Dá, mas você vai precisar de uma boa dose de concentração. “Controlar o tempo depende da sua capacidade de dirigir a consciência para os objetos e colocar as suas preocupações em suspenso”, disse o professor William. “A filosofia oriental, com a prática da meditação, também ajuda, pois possibilita à pessoa ausentar-se ou afastar-se do tempo”, completa. Mas esses recursos são difíceis e limitados – e a correria do dia a dia não ajuda. Se você tem uma tarefa complexa e pouco tempo para executá-la, por exemplo, não vai encontrar soluções milagrosas. Ainda mais porque o estresse e a ansiedade que essa situação pode causar podem acabar agindo para que você “trave” e fazem o tempo passar ainda mais depressa. A concentração vai ajudar, mas não te dá superpoderes.